E mais uma vez o ciclo da violência se repetiu. Aos 32 anos, Daniela Luiz foi morta a facadas em desfecho trágico de uma relação de apenas sete meses, mas marcada por abusos, ameaça e sentimento de posse. Assim como Daniela, somente nos seis primeiros meses deste ano, outras 23 mulheres sul-mato-grossenses não conseguiram romper a sequência que começou com promessas e demonstrações de carinho e evoluiu para agressividade que terminou em morte.
“No começo, ele era carinhoso e demonstrava isso. Agradava ela e as crianças, comprava tanto açaí para o filho dela. É difícil de acreditar”. Nas palavras de quem acompanhou todas as etapas do relacionamento, uma amiga de criação da vítima descreve como João José Furtado Nunes se comportava quando conheceu a ex-mulher.
João foi morto em confronto com a PM, ele era o principal suspeito de duplo homicídio.
A amiga conta que João e Daniela se conheceram depois de o criminoso chegar à cidade para trabalhar em uma fábrica de celulose. “Ele trabalhava em frente à casa onde ela morava. Se conheceram ali e começaram a namorar”, afirma.
Em poucos meses, o homem que se mostrou carinhoso, passou a adotar comportamento agressivo. “Ele começou a ficar meio louco, psicopata. Falava que se ela se separasse dele, não ia ficar com ninguém, que ele era o amor da vida dela”, revela.
Surpresa pela mudança repentina do namorado, a mulher tentou se separar em várias brigas que teve com o criminoso ao longo dos sete meses em que estiveram juntos. Mas o ciclo da violência foi implacável. “Todas as vezes que eles brigavam, ele falava que ia dar um fim na vida dela”, finaliza a amiga.
Por volta das 23h30 de ontem (1°), as ameaças de João José se cumpriram. Com uma faca, ele atacou e matou a ex-mulher e o filho dela, um adolescente de 14 anos. A mãe da vítima, de 52 anos, também foi esfaqueada e está internada na Santa Casa de Campo Grande. Todo o crime foi visto pela filha de Daniela, que correu em direção à rua, ensanguentada, em busca de socorro.
Identifique sinais – Delegada titular da Deam (Delegacia de Especializada de Atendimento à Mulher), Elaine Benicasa explica que, assim como no feminicídio que chocou Ribas do Rio Pardo, atitudes abusivas começam de maneira sorrateira, por isso, é importante observar identificar sinais.
“Obviamente esses comportamentos não surgem logo de cara, durante o período de conquista. É quando o autor se sente um pouco mais à vontade que começam as atitudes controladoras, ciúme excessivo, limitação do ir e vir”, pontua.
Como exemplo, a delegada cita situações do dia a dia como a proibição de que a mulher frequente determinados lugares ou vista roupas que julgue inadequadas, por exemplo. “Alguns impedem até que a mulher tenha contato com familiares, começa a monitorar o local de trabalho e cerca a vítima de todos as formas possíveis. Faz com que ele seja o centro da vida e atenção da vítima e quando percebe que não é, por situações que ele inventa, passa a ser mais agressivo”, detalha.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, somente neste ano, 24 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso do Sul. Em todo o ano passado, foram 36 e em 2020, foram 40 mulheres mortas.
Fonte: Campo Grande news