Os dados sobre reciclagem de resíduos sólidos no Brasil ainda são motivo de preocupação para a iniciativa pública e privada. Informação divulgada pelo movimento Recicla Sampa, aponta que a quantidade de lixo produzida no país é de 130 mil toneladas diárias.
Desse total, cerca de 10% são gerados somente na capital de São Paulo e uma avaliação mais apurada revela que se a maioria da população separasse o lixo reciclado do comum, 40% do montante poderia ser aproveitado. Contudo, o percentual ainda está longe de alcançar a média ideal, com 7% de detritos reciclados.
Nesse sentido, a coordenadora do curso Técnico em Design de Interiores do Senac EAD, Ana Noronha, argumenta que o setor de construção civil tem se comprometido em buscar soluções para a conservação do meio ambiente.
“Temos observado uma mudança de comportamento que começa desde a concepção do projeto, com a procura pôr materiais que se adequam ao conceito do upcycling. Acompanhamos essa movimentação em grandes feiras do setor, como a Expo Revestir, que tem lançado a cada edição, produtos alinhados com a necessidade de conscientização ambiental”, pontua.
Segundo a educadora, é fundamental entender as variáveis que existem sobre sustentabilidade, reciclagem e reuso. Por isso, esclarece que é preciso distinguir as nomenclaturas, da seguinte forma:
– Downcycling: um material parte do seu aspecto inicial no processo de reciclagem e gera um novo produto, de menor valor agregado. Por isso o nome downcycling, pois é uma ação de perda de preço do material original. Exemplo: pneus, que são processados e aproveitados para asfalto público e de estradas.
– Recycling: um produto é recuperado e reutilizado, mantendo sua materialidade e finalidade anteriores. O exemplo mais comuns na nossa sociedade são as garrafas pet, que podem ser reutilizadas.
– Upcycling: o produto inicial é transformado e o resultado é um item de maior valor agregado. Por isso o nome, reutilização “para cima”. Exemplo: retalhos de tecido usados para fazer uma colcha, garrafas pets que se tornam roupas de marcas famosas, pisos laminados à base de bambu, carpetes e tapetes com origem da garrafa pet e decks para piscina feitos de material reciclado.
Construção e reforma com reciclados
A especialista do Senac EAD explica que construir de maneira sustentável é um investimento considerável. No entanto, valoriza o imóvel e gera economia em termos de eficiência energética. E nas reformas dos ambientes, é possível considerar o conceito de upcycling, utilizando acabamentos e elementos decorativos produzidos neste formato.
“Vale lembrar que construções deste tipo são valorizadas no mercado imobiliário, e inclusive premiadas com os chamados “selos verdes”, reconhecimentos dados por instituições do setor”, argumenta.
Outro ponto observado por Ana é de que as opções de materiais reciclados para construção civil estão aumentando no mercado, inclusive em grandes marcas do setor. “O crescimento da oferta é bem importante, até para que os preços reduzam. Há também um comprometimento social das empresas, em ofertar aos seus clientes, produtos com consciência ambiental”.
Acabamento com upcycling, por onde começar?
Para quem deseja utilizar produtos provenientes do upcycling, a docente do Senac EAD recomenda que o primeiro passo é ir até lojas que comercializem os materiais, para conhecer e comparar as opções.
“Somente desta forma é possível desmistificar esse uso e entender que os produtos de upcycling, como o nome já diz, são produtos superiores em termos de qualidade. E ainda por cima, corretos para a nossa sociedade. Quer coisa melhor do que ter uma casa nova, bonita e com um impacto ambiental positivo no planeta?”, observa.
Por fim, Ana elenca seis dicas de decoração e organização, empregando a perspectiva upcycling. A educadora pontua que as sugestões são ideais para quem gosta do conceito DIY (faça você mesmo). Então, confira e aproveite para dar um novo visual na sua casa ou apartamento:
Dica 1: tecidos, pequenos retalhos, podem se transformar em lindos objetos para casa, com pequenos dotes na costura. Uma colcha, almofadas, bordas de toalhas de banho ou de pano de prato. Os paninhos da vovó estão de volta na decoração. Com a pandemia, o conceito de design afetivo está no auge. Os objetos devem contar histórias nas nossas casas.
Dica 2: luminárias feitas com colagem de cápsulas de café.
Dica 3: discos de vinil emoldurados e decorando as paredes.
Dica 4: caixas de papelão que se tornam organizadores de armários e gavetas, quando colados e forrados.
Dica 5: o vintage e o retrô já são queridinhos da decoração. No conceito vintage, por exemplo, malas antigas viram mesa lateral, quando empilhadas e recebendo um tampo de vidro.
Dica 6: móveis que encontramos nos brechós, quando lixados, pintados e com novas ferragens e puxadores, dão uma roupagem conceitual muito linda nos ambientes.
E por último uma criação da coordenadora do curso Técnico em Design de Interiores: de uma caixa de papelão que embalava um headset foi criado um suporte para os fones, aproveitando assim todo o produto e dando um novo destino para a embalagem.
Fonte: In Press Porter Novelli / Aline Oliveira